O mercado da moda na Arábia Saudita
A APICCAPS organizou no dia 19 de março um webinar dedicado ao mercado da Arábia Saudita e focado nas questões mais relevantes para as empresas portuguesas que pretendam abordar aquela que é uma das mais dinâmicas economias a nível mundial e que, atualmente, apresenta maior potencial de crescimento no Médio Oriente. Neste webinar, onde participaram mais de 60 pessoas, foi ainda apresentada a feira Saudi Lifestyle Week, que terá a sua primeira edição em outubro deste ano, de 6 a 8, em Riade, na Arábia Saudita.
O atual contexto internacional, potenciado pelas instabilidades económicas e dos diversos conflitos geopolíticos, representa um enorme desafio para as empresas portuguesas, que cada vez mais procuraram novos mercados para enfrentar esta incerteza crescente. Os países do Médio Oriente, em particular a Arábia Saudita, têm registado não só níveis de rendimento muito interessantes, como perspetivam um crescimento acima dos mercados tradicionais das empresas portuguesas de calçado.
Em 2022, a economia saudita registou um crescimento de 8,5%, um dos mais elevados do G20. Graças ao crescente bem-estar na sociedade saudita, o setor da moda também oferece oportunidades de crescimento às empresas europeias.
De facto, de 2021 a 2025, prevê-se que as vendas globais a retalho de vestuário e calçado (incluindo vestuário desportivo) da Arábia Saudita aumentem 48% (32 mil milhões de dólares), com uma taxa de crescimento anual de 13%. O valor das compras de moda de luxo no Golfo Pérsico atingiu os 9,6 mil milhões de dólares em 2021, com a Arábia Saudita a registar um crescimento de 19%.
No que diz respeito às importações de calçado da Arábia Saudita, a China lidera a lista, seguindo-se o Vietname e a Itália. A Itália possui uma quota de 10,8%. Entre as marcas italianas presentes no mercado saudita encontramos a Mauri, a Loro Piana, a TOD’S e a Bottega Veneta.
Tendo em conta este contexto, o conhecimento sobre o mercado saudita é importante para as empresas portuguesas de calçado, de forma a diversificar os seus mercados, não estando tão dependentes dos seus clientes tradicionais.
Na intervenção no webinar, João Maia, diretor-geral da APICCAPS, não minimiza “as dificuldades que Portugal terá em abordar este mercado”, considerando-o “um mercado de extremos”, onde “se identifica uma classe muito rica, com uma dimensão muito significativa, e uma classe muito pobre”. Salienta ainda que o mercado saudita “é muito baseado em grandes marcas internacionais, onde as marcas locais são muito poucas e de pequena dimensão e o retalho multimarca tem uma pequena quota de mercado”. Nesse sentido, João Maia afirma que “os desafios para as empresas portuguesas são assim enormes” e, por isso, “a abordagem a este mercado deve ser bem preparada”.
Um mercado difícil, mas apetecível
Guilherme Lopes, delegado da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) em Riade, na sua intervenção abordou a relação bilateral Portugal e Arábia Saudita, referindo que “temos um número reduzido de empresas portuguesas com experiência no mercado saudita (que tenham pelo menos dois anos consecutivos de exportações para o país), sendo que em 2023 contávamos apenas com 610 empresas portuguesas exportadoras à escala global”. No que diz respeito ao calçado, em 2024, registaram-se um máximo histórico de exportações para a Arábia Saudita, mas correspondeu apenas a 1,8 milhões de euros, realizado por 41 empresas portuguesas.
Estes números levam-nos à grande questão: “Porque é que Portugal tem tão pouca relevância no mercado ao contrário dos nossos maiores concorrentes europeus, Itália e Espanha”? O delegado da AICEP aponta o facto de os consumidores “preferirem marcas internacionais de referência” como um dos motivos para esta realidade, destacando ainda a existência “de poucas marcas locais que poderiam estar interessadas no nosso processo fabril e a pouca experiência acumulada pelas nossas marcas de calçado na abordagem ao mercado da Arábia Saudita”.
Em linha com estes dados, Guilherme Lopes apresentou uma análise SWOT evidenciando como pontos fortes do mercado saudita o poder de compra, o desenvolvimento do setor retalhista e os sistemas bancário e financeiro desenvolvidos. Como pontos fracos destaca o desconhecimento da oferta portuguesa, a forte concorrência internacional, as tarifas alfandegárias existentes, os custos logísticos ainda elevados e um consumo limitado por fatores climatéricos. Como oportunidade identifica a apetência do mercado para produtos de qualidade, a entrada das mulheres no mercado de consumo, o desenvolvimento de marcas locais e o forte desenvolvimento do e-commerce. Como ameaças destacam-se a pouca penetração da oferta private label, um retalho muito concentrado em oferta monomarca, a instabilidade económica pelo contexto internacional e os produtos contrafeitos.
Feira Saudi Fashion – um palco para o calçado “made in Portugal”
Neste webinar foi ainda apresentada por Enrico Fasola, do Grupo Honegger, parceiro da APICCAPS, a feira Saudi Lifestyle Week que terá a sua primeira edição em outubro deste ano, de 6 a 8, em Riade. A Saudi Lifestyle Week contará com expositores, desfiles de moda, apresentações de design, em particular designers sauditas, e eventos de networking B2B.
Com 50 anos de experiência no setor das exposições internacionais, a Honegger chegou ao mercado saudita através de uma joint ventures com a empresa Riyadh Exhibitions Company, em que parte da empresa é detida por uma membro da família real saudita, “um fator bastante importante porque nesta parte do globo é a família real que toma as decisões no país” afirma Enrico Fasola.
Giovanni Franciosi, da Honegger, destaca que “existem múltiplas oportunidades para exportar artigos de couro, acessórios, calçado e vestuário da Europa para o mercado saudita, impulsionado por novos centros comerciais e pelos mega-projetos, o que tem encorajado a entrada de novos intervenientes internacionais e de novas marcas”.
A Saudi Lifestyle Week – Fashion, Sportswear, Design, que conta como parceiro a APICCAPS, “é uma oportunidade de facilitar a colaborações entre os diferentes parceiros da indústria e de expor as necessidades e os interesses do mercado saudita em termos de produtos”, adianta Enrico Fasola. O evento possibilita ainda a apresentação de marcas já estabelecidas e que estão a emergir no mercado. De facto, a feira é uma oportunidade para as marcas de calçado portuguesas emergirem naquele que é considerado um dos mercados mais dinâmicos a nível regional e mundial.
Documentação do Webinar
Perguntas e respostas